É justo dizer que estamos a viver a crise das nossas vidas.
Conceitos que nos pareciam impossíveis de aplicar estão agora a tornar-se parte do nosso quotidiano.
Desde confinamentos a distâncias sociais e uso de máscaras compulsivo, tudo nesta crise é sem precedente.
Tudo menos a inação europeia relativa às várias complicações adjacentes a esta pandemia, isso está bem em linha com o passado recente.
Enquanto os Estados Unidos, Japão e o Reino Unido aprovaram mecanismos de apoio às partes mais fragilizadas das suas economias, a União Europeia recusa-se a chegar a um acordo sobre os moldes de um pacote de estimulo essencial para ajudar as economias europeias mais afetadas por esta pandemia.
O impasse imposto por estados como a Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia reflete uma falta de compreensão relativa à situação com que a Europa está a lidar. Da perspetiva dos "frugais", o que está a ser pedido parece quase ser um ato de caridade, quando na verdade é o preço da prosperidade que obtêm do projeto europeu. Posto de outra forma, é um investimento na continuidade da Europa como a conhecemos. Algo que não devia ser difícil perceber, particularmente numa altura de pandemia.
Um pacote que, verdade seja dita, é muito parco quando comparado aos esforços de países como os Estados Unidos, o Japão ou a Alemanha quando vistos da perspetiva da percentagem do PIB.
Uma situação que não deixa de me causar perplexidade.
Mesmo perante os tempos que enfrentamos a Europa não muda. Recusa-se a perceber que é da unidade que retira força e que os interesses de países como Portugal, Espanha ou Itália são, contas feitas, os interesses da Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia. Nem mesmo a posição alemã parece persuadir estes países a quebrar o impasse.
Do que resultar deste impasse, dependerá muito a Europa que teremos daqui por cinco ou dez anos. Se a União Europeia não conseguir resolver este impasse com uma solução mais ambiciosa e com menos exigências flageladoras aos estados com as economias e finanças mais afetadas, a morte do projeto europeu poderá ser inevitável. Seja pela via da desintegração, seja pela ascensão de forças populistas e demagogas.
Se em plena pandemia, com os efeitos que conseguimos ver nas várias economias europeias e nas vidas de milhões de pessoas, a Europa não agir sem hesitações e com medidas ambiciosas, ficará uma questão essencial: para onde vai o projeto europeu e para que serve afinal?
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