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O PS também tem um papel a cumprir no cordão sanitário


À data, o Partido Socialista (PS) vai à frente nas sondagens, mas a esquerda não consegue formar maioria que sustente uma solução governativa de esquerda. Perante este cenário urge ao PS refletir o que fará perante uma hipotética maioria de direita quer seja a Aliança Democrática (AD) a força mais votada ou o PS face à ameaça que um Chega (que surge reforçado em todas as sondagens) coloca à nossa democracia.

Se durante anos, perante uma certa ambivalência discursiva do Partido Social-Democrata (PSD) perante alianças envolvendo o Chega que só recentemente foi desfeita, o PS insistiu que o PSD clarificasse o seu posicionamento relativamente ao Chega e as suas linhas programáticas, agora eis o momento do PS clarificar o seu posicionamento no que diz respeito a fazer cumprir o seu compromisso de evitar que o Chega faça parte de qualquer solução de governo.

Nesta altura urge que o PS responda abertamente se viabilizará um governo da AD de modo a evitar que seja necessário o apoio da extrema-direita.

A resposta, ou a ausência dela, não é um detalhe. Dela será possível conferir se os sucessivos alertas que o PS foi fazendo ao longo dos anos relativamente à ameaça que o Chega coloca à democracia portuguesa eram sinceros ou mera estratégia eleitoral para que o Chega servisse de um empecilho a qualquer governação de direita.

Reitero: a resposta a esta questão não é um detalhe, é essencial. Tal como é importante que Luís Montenegro cumpra a sua palavra e não se alie ao Chega, é importante que o PS providencie uma solução que torne este compromisso viável perante uma maioria de direita que estaria dependente do Chega para governar, como aquela que a generalidade das sondagens prevê neste momento.

É natural que o PS não queira passar demasiado tempo a falar disto. O PS ambiciona ser o partido mais votado e que exista uma maioria no parlamento que lhe permita governar (sozinho, em coligação, ou com acordos de incidência parlamentar). Mas também é natural que o eleitorado queira saber o que acontecerá se este objetivo não for atingido.

Luís Montenegro clarificou. Está na altura de Pedro Nuno Santos de fazer o mesmo.

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