No seu discurso de derrota, Pedro Nuno Santos fez questão de afirmar que Portugal não tem 18% de racistas (o milhão de eleitores que votou Chega nas eleições legislativas). Um mantra que entretanto vi repetido várias vezes.
Como estratégia política, entendo a escolha de Pedro Nuno Santos de não antagonizar o eleitorado do Chega cuja maioria se presume terá votado neste partido principalmente por insatisfação com o estado do país e não pelo que o Chega tem a dizer sobre a imigração.
Mas há aqui um
detalhe a prestar atenção. Na verdade, dois: maioria e principalmente.
Ou seja, a maioria dos eleitores Chega terá tido como principal razão para o seu voto o voto de protesto, mas nem isto isenta um número significativo de eleitores do Chega de ter como principal justificação para o seu voto a xenofobia e o racismo, nem isto isenta a maioria cujo principal móbil foi protestar várias outras escolhas políticas de conviver bem com um partido racista e xenófobo ou até de partilhar com ele esses traços.
Nesta análise não me move a minha antipatia óbvia pelo partido. Movem-me os dados.
Um estudo do European Social Survey que fez notícia no Público em 2020 é claro no que diz respeito à questão dos um milhão de racistas.
No estudo foram feitas três afirmações e foi perguntado aos participantes se concordam ou discordavam das mesmas.
Perante a afirmação de que "há grupos étnicos ou raciais por natureza mais inteligentes", 30.4% respondeu em concordância, com 10.5% a dizer que não concordavam nem discordavam e a maioria (59.1%) a discordar da proposição.
A tendência inverte-se quanto à afirmação de que "há grupos étnicos ou raciais por natureza mais trabalhadores". Aí a maioria (57%) manifestou-se de acordo, com 33.1% a discordar e 9.9% a dizer que nem concordava nem discordava.
E perante a afirmação de que "há culturas, por natureza mais civilizadas do que outras", uns estrondosos 78.8% manifestaram-se de acordo, enquanto apenas 12.6% discordaram com 8.6% a dizer que nem concordavam nem discordavam.
De acordo com o mesmo estudo, 62% dos inquiridos concordou com pelo menos uma das afirmações mencionadas, com 32% a manifestar acordo com todas.
Este estudo pode ser
relativamente antigo, mas é revelador de uma triste, mas inegável realidade: Portugal é um dos países mais racistas da Europa.
Por isso não só existem um milhão de racistas, como este estudo indica que sejam muitos mais: 6,412,701.
Não há frases feitas que mudem esse facto e enquanto não confrontarmos esta realidade seremos incapazes de lidar com o fenómeno do racismo e da xenofobia e com as forças políticas que o utilizam como chamariz para novos eleitores.
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