O lamentável espetáculo protagonizado por Trump e JD Vance hoje é uma humilhação para a democracia liberal americana e ocidental. A dupla rebaixou-se em cada ataque lançado contra Zelensky, um verdadeiro líder que permaneceu ao lado do seu povo num dos momentos mais difíceis da história da Ucrânia – a guerra iniciada pela Rússia.
O Presidente Zelensky manteve-se em Kyiv mesmo quando o futuro do seu país era incerto. Num momento em que muitos esperavam que a Rússia alcançasse rapidamente os seus objetivos e chegasse à capital em pouco tempo, ele ficou.
Na altura, agências noticiosas conceituadas, como a AP e a Reuters, chegaram a montar transmissões em direto na praça central onde decorreram os protestos do Euromaidan, antecipando uma possível queda da cidade.
Contra todas as expectativas, quando lhe foi dada a oportunidade de fugir, Zelensky respondeu com firmeza: “Não preciso de boleia, preciso de balas” – uma declaração que desafiou as ambições imperialistas de Moscovo.
Trump teria feito o mesmo? Todos sabemos que não. Este é o homem que evitou ser recrutado para a Guerra do Vietname alegando sofrer de esporões ósseos, mas que nem se lembrava qual dos pés estava afetado.
E JD Vance? Também sabemos a resposta. O oportunista que renegou todas as críticas que alguma vez fez a Trump para garantir um cargo político não é de fiar. A única posição que parece manter de forma consistente é “Faço o que Peter Thiel quiser”.
Esta é a dupla patética que representa aquilo que já foi a maior e mais poderosa democracia do mundo.
Mas para além da falta de respeito e do desprezo que demonstraram pela Ucrânia e pelo seu sofrimento, há outro aspeto que sobressai: o grau de subserviência que mostram em relação à agenda do Kremlin.
Talvez nunca saibamos exatamente porquê, mas é evidente que Trump e a sua administração servem os interesses de Moscovo. Seja pelo apoio à extrema-direita europeia (como ficou claro no discurso absurdo de Vance na Conferência de Segurança de Munique) ou pela disposição em ignorar a Ucrânia em “negociações de paz” que dariam à Rússia tudo o que quer sem qualquer contrapartida – um cessar-fogo sem garantias de segurança, que os EUA rejeitam e que a Rússia não quer que os europeus ofereçam, algo que poderia acabar por ser temporário e ilusório.
Trump achava que conseguiria pressionar Zelensky a vender os recursos minerais da Ucrânia a preço de saldo. Isso não aconteceu – e, com sorte, nunca acontecerá. A Ucrânia tem direito a um lugar na mesa das negociações, e nenhuma decisão sobre o seu futuro pode ser tomada sem a sua presença.
O episódio de hoje entra para a história como um momento vergonhoso: o Presidente e o Vice-Presidente dos Estados Unidos a dobrarem-se para promover a propaganda imperialista de Moscovo, numa tentativa descarada de normalizar a traição à Ucrânia.
A experiência democrática da América já teve altos e baixos, mas este tem de ser um dos pontos mais baixos da sua história.
Perante um exemplo genuíno de patriotismo e respeito pela democracia, Trump e Vance não só se humilharam a si próprios como também envergonharam a América. E por isso devem um pedido de desculpa ao país e ao seu povo. Quanto a Zelensky, é provável que este nem perca tempo com isso – ele tem preocupações bem mais sérias, como continuar a defender o seu país da invasão lançada pelo grande amigo de Trump, Vladimir Putin.
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