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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2024

Por uma Europa aberta, humana e intercultural

É justo dizer que um pouco por toda a Europa vemos surgir vários problemas que surgem das pontas soltas do multiculturalismo. Se por um lado o multiculturalismo serviu ao longo das últimas décadas para uma coexistência pacífica entre comunidades diversas a vários níveis, por outro esse entendimento tácito sobre a relação entre a comunidade maioritária e as minoritárias foi-se deteriorando ao longo dos anos e hoje mostra-se ineficaz face ao crescimento do sentimento identitário na Europa. Perante problemas que originaram destas pontas soltas como o assassinato de Theo van Gogh nos Países Baixos ou os ataques ao Charlie Hebdo em França, a Europa entrou numa febre securitária e identitária em que, ao invés de se avaliar o que tinha corrido bem e o que tinha corrido mal, de modo a corrigir o que tinha corrido mal, decidiu-se fazer uma inversão de marcha completa na ideia de uma Europa diversa e inclusiva. A isto adicionaram-se os efeitos da crise do subprime de 2008 e a consequente crise d...

Porquê Fika?

Estocolmo, imagem de Bru-nO (Pixabay) Há uma coisa que sempre achei que ficou por esclarecer relativamente ao nome do meu blog, Fika. O nome do blog vem da tradicional pausa que os suecos fazem para tomar café que é denominada de fika. Durante esta pausa, é frequente que surjam vários temas de conversas. Dos mais banais aos mais sérios. Foi com a intenção de escrever sobre temas que considero interessantes, mas que reconheço possam nem sempre estar ligados tematicamente que comecei este blog e que optei pelo nome Fika. Isto para não falar do meu apreço pelo modelo económico e social nórdico e admiração por figuras como o ex-primeiro-ministro sueco Olof Palme ou pelo jornalista e autor Stieg Larsson (e já agora, por que não, Zlatan Ibrahimovic, um dos melhores avançados de sempre, na minha opinião). Só por acaso, até hoje não publiquei neste blog nenhum texto sobre futebol nem julgo que vá escrever a não ser que algo relativamente à Superliga Europeia o motive. Fica o registo: sou contr...

A “indecente e má figura” de Passos Coelho e da AD

A Aliança Democrática (AD) fez, esta semana, regressar Pedro Passos Coelho ao palco mediático com uma intervenção na campanha eleitoral da coligação no Algarve. A intervenção foi de pouco mais de vinte minutos e diz-se que será a única que fará durante esta campanha, mas foi tempo suficiente para nos mostrar muito sobre a situação da direita atualmente. Nos vinte e poucos minutos em que discursou, Passos Coelho tocou na economia (acusando o PS de não fazer o país crescer o suficiente), tocou na imigração (que ligou erroneamente a uma suposta perceção generalizada de insegurança), e tocou também, sem que ninguém desse nota disso, na questão das aulas de Educação para a Cidadania no sistema educativo. Foi um festim de talking points simplistas e factualmente incorretos. Comecemos pelo crescimento. Passos Coelho acusou o PS de deixar uma perspetiva de crescimento económico "miserável". Ora a perspetiva de crescimento económico do país é de 1.3% para este ano e 2.3% em 2025. Na A...

A democracia de calculadora na mão

As sondagens (e os resultados das eleições de ontem nos Açores) indicam algo inédito na nossa democracia: uma força de extrema-direita poderá ser crucial na determinação de quais serão as soluções de governo viáveis. À data, o agregador de sondagens da Renascença coloca o Chega como terceira força mais votada com 17.9% das intenções de voto. Não obstante o facto do Partido Socialista (PS) liderar neste agregador com 30.4% (contra os 26.8% da Aliança Democrática (AD)), o agregador (tal como todas as sondagens até ao momento) indicam uma maioria de direita. O facto dessa maioria de direita ser potenciada pelo Chega coloca questões complexas para a AD, mas também para o PS. Se o PS quiser formar governo com maioria no parlamento, terá que encontrar soluções que consigam respaldo parlamentar que ultrapasse a divisão esquerda-direita que tem marcado o nosso debate político. Sendo que, à parte de um acordo com o Partido Social-Democrata (PSD), mesmo uma solução que envolva a IL poderia não s...

O PS também tem um papel a cumprir no cordão sanitário

À data, o Partido Socialista (PS) vai à frente nas sondagens, mas a esquerda não consegue formar maioria que sustente uma solução governativa de esquerda. Perante este cenário urge ao PS refletir o que fará perante uma hipotética maioria de direita quer seja a Aliança Democrática (AD) a força mais votada ou o PS face à ameaça que um Chega (que surge reforçado em todas as sondagens) coloca à nossa democracia. Se durante anos, perante uma certa ambivalência discursiva do Partido Social-Democrata (PSD) perante alianças envolvendo o Chega que só recentemente foi desfeita, o PS insistiu que o PSD clarificasse o seu posicionamento relativamente ao Chega e as suas linhas programáticas, agora eis o momento do PS clarificar o seu posicionamento no que diz respeito a fazer cumprir o seu compromisso de evitar que o Chega faça parte de qualquer solução de governo. Nesta altura urge que o PS responda abertamente se viabilizará um governo da AD de modo a evitar que seja necessário o apoio da extrema...