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Não, Chris, não é tua culpa

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A importância da utopia

Muito daquilo que hoje damos por adquirido foi, em algum tempo mais ou menos longínquo, considerado impossível, fosse pela falta de desenvolvimento tecnológico ou por dogmas e subsequentes ditames sociais. Desde a eletricidade e as vacinas à Segurança Social e o conceito de casamento por amor, a história é feita de utopias transformadas em realidade. O impossível de ontem é a realidade de hoje e é-lo porque ousamos sonhar. Ousamos desejar um mundo melhor e mais justo. Não obstante todos estes desenvolvimentos que o nosso rasgo sonhador nos trouxe, estamos hoje deparados com problemas de difícil ou aparentemente impossível resolução. As desigualdades que marcam as nossas economias e sociedades extremam-se e levam cada vez mais pessoas ao desespero. A pobreza de uns vai gerando a riqueza exacerbada de outros. Um fenómeno que expõe a necessidade de repensar os dogmas que como sociedade aceitamos em relação a conceitos como trabalho, propriedade, riqueza e redistribuição. A crise c...

O país precisa de mais imigrantes, não menos

É com estupefação que tenho assistido aos debates que se geraram ao longo dos últimos meses à volta do tema da imigração fomentados pela demagogia de Pedro Passos Coelho, numa fase inicial, e, posteriormente, Luís Montenegro com a retórica das “portas escancaradas”, num esforço claro de acompanhar o extremismo do Chega. Para responder ao primeiro-ministro diretamente, não, não existe nenhuma evidência de que o país esteja de “portas escancaradas” e que sejam necessárias reformas para regressar às “portas abertas” que o mesmo apregoa aos sete ventos. Se da extrema-direita já era de esperar, da direita democrática é, no mínimo, chocante. Vejamos alguns factos básicos. Primeiro, não se verifica que o aumento da imigração nestes últimos anos  esteja a contribuir para um aumento generalizado da criminalidade , ao contrário do que o Chega (e o PSD e CDS-PP, com a retórica da “sensação de insegurança” ) querem fazer parecer. E isto não é sequer um dado surpreendente. Nos vários ...

A erosão dos valores: o assassinato de Brian Thompson e a normalização da violência

  Na sequência do assassinato do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson , a internet foi inundada com uma variedade de reações que vão desde condenações (como é devido) até celebrações e glorificações, com estas últimas a representarem uma parcela preocupante das respostas encontradas. É possível que a dimensão destas reações – celebrações, glorificações ou simples indiferença face ao sofrimento imposto à sua família e amigos, bem como à imoralidade de tirar uma vida – esteja exagerada. Em outras palavras, a amostra de reações online pode não ser representativa da população em geral. Essa é a minha esperança. O oposto significaria que começámos a aceitar a violência como uma forma de expressão política, algo que mina os próprios alicerces de qualquer democracia. Embora seja compreensível que muitas pessoas tenham queixas legitimas em relação ao sistema de saúde americano, não devemos usar eufemismos ao descrever o que aconteceu. Se o ato foi de facto motivado pelas falhas ...

Uma reflexão sobre Israel, Palestina e o ciclo da violência

Bandeira israelita | foto de Taylor Brandon (Unsplashed) No início do ano, escrevi um texto em que classifiquei as ações de Israel na Faixa de Gaza como um genocídio, publicado  no meu blog ( Fika )  e, posteriormente,  n’ O Cidadão . Tenho, desde há algum tempo, sentido que precisava de revisitar o tema do conflito Israelo-Palestiniano de modo a clarificar aspetos que não tive oportunidade de explorar naquele texto e como resultado de uma evolução na minha perspetiva relativa ao mesmo. O primeiro ponto é que, ao contrário dos vários fanáticos que tratam Israel como a fonte de todo o mal e desrespeitam o seu povo e a sua história, eu acredito piamente no direito de Israel a existir – do povo judeu a ter o seu Estado. E tenho esse ponto como não negociável. Contrariamente a vários outros sionistas, defendo uma Israel diferente da que existe atualmente. A Israel que defendo é um país secular e progressista, sem as divisões étnicas e religiosas atuais da Israel de hoje qu...

Não, não foi o "wokeismo"

Kamala Harris - foto de Gage Skidmore Muitas narrativas têm sido ensaiadas para justificar a (para muitos, mas não para mim) surpreendente vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas. Nos media como a CNN, a MSNBC ou o New York Times, uma ideia em particular parece ter tomado raiz: o Partido Democrata radicalizou-se demasiado para a esquerda e com isto os iluminados comentadores pretendem referir-se às causas identitárias, visto que é o resquício de esquerda que o Partido Democrata tem. O pináculo desta deriva "anti-woke" é Mika Brzezinski do programa "Morning Joe" da MSNBC chegar ao ponto de ler na integra um artigo de Maureen Dawd intitulado "The Case of Mistaken Identity Politics" que apresenta precisamente o mesmo ponto. Devo admitir que este argumento é interessante. Ele sustenta-se numa suposta impreparação do eleitor médio para compreender certas nuances de políticas inclusivas defendidas pelo Partido Democrata (em particular a part...

Não se fala da russofobia, mas devia-se

 Há uns dias, na Web Summit, Yulia Navalnaya foi interrompida por protestos contra a guerra da Ucrânia feitos por pessoas oriundas desse mesmo país. Se por um lado, a causa era nobre (combater uma guerra injusta e imperialista iniciada pela Russia), por outro o alvo não era o correto: Yulia Navalnaya é a viúva de Alexey Navalny, que foi, até à sua morte, o principal opositor do déspota russo que decidiu invadir a Ucrânia. De facto, a guerra da Ucrânia e a exigência de que esta pare e que a Russia devolva à Ucrânia as terras que conquistou (incluindo a Crimeia, anexada em 2014), não foi o único móbil por detrás desta ação de protesto, havia outro: para estes protestantes era inaceitável que a Web Summit servisse de plataforma a uma oradora russa. Mesmo que esta estivesse do seu lado, aparentemente. Este é apenas o mais recente episódio da russofobia da qual não falamos, mas devíamos. Se é verdade que este termo fica contaminado por ter sido uma das justificações usadas por Vladimir...